Sobrevivi e sobreviverei

Vendo recentemente o insta do ator Bruno Gagliasso, ao qual admiro muito e que no ano 2009 me identifiquei muito com o seu personagem, que estava sofrendo com a psicose e com a dificuldade da família aceitar o diagnóstico da esquizofrenia, vi uma foto dele como o personagem e me fez refletir em toda a minha caminhada até os dias atuais. 

O olhar de desespero, de se sentir vigiado, olhar acuado me fez ver o quanto eu junto com os meus consegui seguir em frente. 

Em 2009 não conseguia me ver sem ser ao lado dos meus avós e meu desespero era pensar que eles poderiam morrer e eu ficaria só.

Em Agosto de 2010 me vejo tendo que atender pacientes no estagio supervisionado e tendo que socializar, mesmo no auge de um surto psicótico. Neste mesmo ano em novembro tive que apresentar meu TCC e que fique claro ele só saiu pela ajuda, dedicação e profissionalismo da minha fonoaudióloga Thias e junto com o TCC meu avô encontrava-se lutando pela vida no CTI por um embolia pulmonar causada por uma trombose venosa profunda e sim eu sobrevivi

Em 2011 comecei a namorar meu marido e entrei no mercado de trabalho, vi o quanto ele é sujo, cruel e mesquinho e sim sobrevivi.

Em março de 2012 me casei e sempre me preocupei em ser uma boa esposa e nunca me imaginei sendo mãe, pois nunca achei que conseguiria isso.

Em 2016 meu avô faleceu e eu sobrevi não só a perda como as investidas de parentes achando que eu queria o que era deles; fui posta no paredão e metralhada por alguns. O que tirei disso: força, determinação e coragem. Sobrevivi.

Em agosto de 2017 meu marido abre um quadro de depressão mista, conhecemos o Entrelaços (programa de psicoeducação do IPUB-UFRJ) em setembro, em outubro o meu sogro vai a óbito e sim, sobrevivi.

Em 2018 tive uma outra perda, a minha amada tia Maria e sobrevivi, só que depois de tanto apanhar Deus me deu em outubro meu filho Gabriel e aprendi a ser mãe na marra, rindo e chorando e sobrevivi.

Veio 2019 tudo parecia perfeito, descubro que estava gravida e sim parecia um sonho e no dia 28 de agosto tive um aborto, passei por cirurgia, passei por psicofobia dentro da unidade hospitalar no pronto atendimento. Dor igual a perder um filho não existe maior e nenhum outro filho substitui o que se foi e hoje estou aqui para falar que sobrevivi.

Veio 2020 e tudo ótimo; até que meu esposo tem uma recaída da depressão em fevereiro, ele consegue uma boa proposta de emprego, pede demissão do emprego antigo e um dia antes de iniciar o novo  é avisado que não será mais contratado, vem em seguida o isolamento do COVID-19 e estamos sobrevivendo.

A que custas estou sobrevivendo eu ainda não sei, tenho medo de tudo, duvido até da minha sombra, me sinto cada dia mais acuada e perseguida e olho pro lado, vejo que não posso cair, pois meu filho depende de mim, não sei até quando aguentarei só sei que pelos meus meninos faço tudo e não desistirei de sobreviver por eles e por mim mesma.

O medo do incerto é desesperador e a certeza de que as contas estão a chegar é realidade, olhar pro lado sem saber o que fazer e como fazer é extremamente limitante e desesperador mas sei que se cheguei até aqui é pelo simples fato de que sofrer faz parte e de que vou sobreviver a mais essa jornada.