Psicofobia e o Estigma da Esquizofrenia no Século XXI

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Sabemos desde crianças que temos que respeitar as diferenças, no entanto quando encontramos grupos de minorias esquecemos o que aprendemos e queremos tirar onda ou desqualificar o próximo, seja pela raça, orientação sexual, gênero e até mesmo por algum tipo de deficiência, doença ou transtorno.







Eu acredito e sei por vivência que ser chacota dos outros, por motivo de alguma diferença ou por ser minoria, é horrível, mas quando esse preconceito vem primeiramente dos familiares é pior ainda. Falo isso, pois na infância eu era motivo de deboche por ser filha de pais separados, ter sido criada por meus avós maternos, por não gostar de usar saia e/ou vestido, por jogar futebol, por não ter amigos, por ter gostos diferentes das meninas da época e agora na faze adulta por não ser gananciosa e por sofrer de esquizofrenia.

O pior do preconceito com o transtorno mental, que chamaremos aqui de psicofobia, é a desqualificação e uso de forma pejorativa do transtorno pelas pessoas. A pessoa que comete o preconceito ela quer, de uma forma ou de outra, muitas das vezes velada, te diminuir e mostrar que você não tem nada, só está querendo chamar atenção e o que você sente é só frescura.

Quando eu e meu marido falamos para algumas pessoas que sofro de esquizofrenia muitos questionaram o diagnostico por me acharem funcional, por não ser agressiva e por ter estudado; só que com o tratamento correto, em especial com a evolução da psiquiatria, os níveis de pessoas disfuncionais reduziram drasticamente. O que me choca mais é que as pessoas acham que o paciente esquizofrênico não pode casar e nem ter uma vida independente e afirmam que a pessoa que se aproxima do esquizofrênico está querendo tirar proveito da situação.

No dia 14 de agosto de 2016, na hora do almoço na casa da minha avó um familiar questiona de forma grosseira, agressiva e tentando me desqualificar como pessoa e paciente a quantidade de medicações que eu tomava durante o dia por ter visto a caixa onde eu guardo minhas medicações. Meu marido percebendo a forma maliciosa em que fui questionada falou que eu tomava aquelas medicações por também ter esquizofrenia. O familiar de forma maléfica tenta botar o meu marido como sendo o ruim que estava querendo me fazer de doente por ter interesse em coisas da família e do governo, chegou ao cumulo de dizer "como alguém casa com um esquizofrênico se não for por interesse?".  A pessoa quando se viu sem argumento inventou que estava passando mal e foi embora contar pros outros familiares a sua versão da história, o que quis e não de fato o que aconteceu. Foi nessa situação que percebi que os primeiros a manifestar preconceito estão dentro de casa.

Nesse tempo todo aprendi que o primeiro passo pra melhora da qualidade de vida é a aceitação do quadro, e eu aceito que tenho um transtorno mental grave, que preciso de medicação, psicoterapia, da música e do esporte pra viver bem e exercer as atividades de vida diária sem maiores dificuldades.

Preocupa-me muito a forma pejorativa com que as pessoas usam o termo esquizofrenia, esquizofrênico e surto. Pois nós pacientes, sofremos e nossos familiares próximos também pois é ruim demais ter delírios, alucinações e dificuldades de socialização e muitos outros sintomas, sendo eles positivos, negativos e/ou cognitivos. Só que infelizmente o preconceito não é só da família e sim da população em geral, essa semana em um programa de TV um pessoa que sofreu preconceitos durante a vida usou de forma pejorativa o termo esquizofrênico, sei que muitas pessoas, inclusive eu, cobramos retratação e até agora, eu em particular, fui ignorada. Eu e muitos outros lutamos pra desmistificar a esquizofrenia só que nem a mídia e nem a justiça nós ajuda. Quantos psicopatas e canibais são taxados pela justiça de esquizofrênicos para terem penas de crimes hediondos reduzidas?

Minha psiquiatra fala muito pra mim que o esquizofrênico não é agressivo, mas pelo contrário, geralmente ele sofre agressão. As pessoas só dão o que recebem, se formos bem tratados, trataremos bem. A doença e suas místicas não nós define, sou maior que qualquer diagnóstico e também não estou aqui querendo me promover, quero só que outros que venham a precisar da saúde mental e fazer tratamento sejam tratados com dignidade e não como “malucos”.

Comunico: continuarei dando a cara a tapa e conscientizando de que psicofobia é crime e que fujam de mim pois estou subindo igual um foguete e farei a minha parte pra desmistificar a saúde mental e em especial a esquizofrenia e junto com os que me apoiam venceremos, para que as próximas gerações não precisem sofrer o que eu e muitos amigos sofremos até aqui. Não somos uma doença, não somos um risco a sociedade, não precisamos ficar enjaulados, pois o tratamento nós permite ser produtivos e em muitas das vezes funcionais. Vamos amar mais, esquecer os rótulos e deixar de lado o preconceito. Diga não a psicofobia e ao estigma da esquizofrenia.

Sou Mariah Aragão, fisioterapeuta, com pós graduação em Educação Especial e Inclusiva, dona de casa, casada, realizada e futuramente mãe.

Comentários

  1. Olá! Muito obrigado pelo seu exemplo de luta por uma vida melhor e sem preconceito! DEUS LHE PAGUE! !!!

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    1. Eu que tenho que agradecer por curtir meu trabalho. Tenho como obrigação tentar impedir que outros passem pelo que passei. Que o bom deus te abençoe e obrigada pelo carinho!

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