Esquizofrenia, Gestação e Aborto

Já vinha há alguns dias me sentindo mal e acordando enjoada. Até que faltando uma semana para o dia dos pais, resolvi junto com meu marido comprar um teste de gravidez. Eu acreditava que meu fígado não estava bom e por isso tanto enjoo pela manhã.  

Foi aí que a maior das surpresas aconteceu: eu estava grávida! Fiquei em pânico, porém muito feliz, pois nunca imaginei que conseguiria engravidar. De imediato entramos em contato com o meu ginecologista, minha psiquiatra e minha endocrinologista. Logo de imediato algumas atitudes foram tomadas:  consultas marcadas, exames feitos e sim o bebê estava bem até aquele momento.

Foram retiradas várias das minhas medicações para ansiedade, instabilidade de humor e assim alguns desequilíbrios da esquizofrenia vieram à tona. Eu e Rafa tivemos várias conversas para aparar as arestas e colocar tudo em pratos limpos.

Fomos nos adaptando, chegou o terceiro mês e tudo estava em prefeita ordem. Até que no dia 28/08 meu pequeno Vítor se sentiu tão amado que decidiu vir ao mundo faltando ainda seis meses para sua chegada.

Mesmo no auge da dor e de um aborto espontâneo, lembrei que meu filho Gabriel estava vivo e precisava de mim, pois estava assustado com meu marido do lado de fora da sala onde fazia o procedimento. Tirei forças de onde até agora não sei, me mantive sentada e sem derramar uma lágrima, pois meu filho estava vivo, assustado e precisava de mim perto dele lhe mostrando que tudo ia e estava bem.

Quando meus cunhados levaram o Gabriel para casa deles, abracei meu esposo e aí choramos copiosamente, pois nosso Vítor tinha chegado sem avisar e tão precocemente tinha voltado para o céu. Nunca senti tanta dor na minha vida, não só física como também emocional, nem a esquizofrenia e todas as suas dificuldades me levaram a sentir tanta dor. 

A vontade era de morrer junto com o Vítor só que olhei para o lado e vi meu esposo e Gabriel precisando que eu ficasse firme e junto deles. Por mais que tenhamos sido informados pós cirurgia que o Vítor tinha morrido por que com toda certeza ele tinha algum defeito genético incompatível com a vida, ao mesmo tempo que foi um aliviou, gerou uma dor ainda maior, pois me questionei se seriam os remédios que eu tomo que fizeram o meu segundo filho morrer ainda em formação?!

Acredito que nunca saberei essa resposta, só sei que hoje me tornei uma pessoa melhor e mais forte e que por algum motivo contrariei todas as expectativas médicas, inclusive de médicos que trabalham com fertilização humana. Sei que terei que tomar remédios para não engravidar por algum tempo e de repente para toda vida, mas sei que acredito num Deus vivo que um dia mostrará a todos de que Ele é Deus e que sua vontade será feita e não a de nós, meros mortais.

O Gabriel me fez sair do fundo do posso e mostra diariamente que amor não existe só através de laços sanguíneos, mas de laços criados pelo coração através do amor. Ele é uma criança que ama os pais e todos que o tratam com amor e carinho.

Dor maior que a perda do Vítor, nem a esquizofrenia com todas as suas dificuldades dos sintomas positivos e negativos eu vivi! É uma dor que parece que nunca acabará e que te rasga diariamente. Sei que hoje sou mais forte e sei que o Deus que creio e tento servir poderá fazer o milagre de me dar outro filho biológico.