Quarentena: terror do isolamento

Como vocês sabem sou portadora de esquizofrenia paranoide e o convívio social pra mim não é necessário e nem muito divertido.  Tenho um marido e um filho de dois anos e nesse tempo só tenho a dizer que se eu não morasse em um apartamento de cinquenta metros quadrados tudo seria melhor e mais fácil, se existisse um quintal seria ainda melhor.

O quadro clássico de um portador de esquizofrenia é não gostar de gente, mas tem hora que precisamos ver vida, uma casa com quintal pra viver a quarentena, pena que essa não é minha realidade e sinceramente não aguento mais ficar presa nessa caixa que se tornou minha casa.

Realizar as tarefas já é algo bastante desgastantes em dias comuns, em quarentena pior e mais complicado ainda de conseguir realizar tudo e ter prazer em fazer é impossível. Todos os dias são iguais e bem chatos, nada muda e o desespero só aumenta a cada segundo. Tento ao máximo não falar nada e fazer com que tudo dê certo, comunicando o mínimo possível até com os que estão junto de mim. Estou esgotada, sem paciência e com vontade de só dormir, mas isso não é possível, o isolamento só faz aumentar o estresse.

Tivemos um quadro bem complicado a poucos dias. Precisei de ajuda médica ao meu quadro de bronquite. Meu marido passou umas 6 horas no telefone buscando saber para qual hospital ou ambulatório me levaria, o medo dele era que fosse isolada no hospital em um quarto alegando COVID, ficamos desesperados. Estamos saindo para o mínimo possível. Depois de falar com meus médicos e com familiares, fomos ao hospital todos preparados para o atendimento e no Hospital das Clínicas de Teresópolis fomos muito bem atendidos. Todo cuidado foi dados e atenção ao meu caso, meu marido ficou comigo o tempo todo e não fiquei isolada.

Ficamos imaginando como não devem ter pelo Brasil a fora pessoas sofrendo com a COVID e sendo portadoras de esquizofrenia, sendo levados ao isolamento e morrendo não pela COVID, mas sim pela solidão e sofrimento do isolamento. Se eu em casa e com todo amor tenho dias que não quero sair da cama, imagina naquele quarto branco, isolado, sabendo que foi infectado e podendo morrer pela doença do século.

Vou permanecer na minha quarentena pensando todo dia em dias melhores. Neste momento eu, Gabriel e Rafa estamos longe, optamos por eu e Gabriel em um local mais tranquilo para passar este tempo complicado de frio e possíveis crises de bronquite em Brasília. Falamos a todo momento pelo telefone. Eu sou grupo de risco mas como sairei dessa quarentena é impossível imaginar, vejo um futuro muito diferente de tudo que vivemos até aqui.

Que meus pares da Esquizofrenia que estão sofrendo nos CTI's, nas emergências e UPAS ou ainda na sua casa isolados, eu só peço uma coisa: lutem para permanecer estável e não deixem de tomar seus remédios. Nosso equilíbrio ajuda a muitas pessoas a viverem melhor. Se puder, faça isso por alguém que ama.