Tenho desejos e vontades

Acompanhando as repercussões deste ano de 2021 sobre o dia da pessoa com esquizofrenia, participei de diversos debates, aulas, seminários, dei entrevistas, debati e ouvi muita coisa e preciso falar sobre isso aqui hoje. 

Sou vulnerável e a minha condição não me torna prisioneira de ninguém. Tenho desejos e vontades, como qualquer pessoa, tenho tristezas e medos, como qualquer um, tenho momentos de reclusão, quando fico em meu quarto pensando ou jogando vídeo game, vendo TV, mexendo no computador, ouvindo  músicas, como qualquer outra pessoa, nada disso me torna diferente de você, isso não significa que dentre estes momentos eu não encontre o prazer ou que não o tenha fora deles.

Somos todos semelhantes e minhas dificuldades não dão o direito ninguém de querer me tornar uma marionete ou um fantoche em suas mãos. Me olhe como olha o outro, como você olha a filha ou filho de seu vizinho, que formou-se, casou e teve filhos. Eu também realizei estes sonhos.

Meus sintomas, sendo eles quais forem, não me tornam incapaz e sem discernimento da vida, ao contrário,  me fazem ser muito mais resiliente do que o seu olhar possa alcançar. 

A esquizofrenia é só mais uma das batalhas que enfrento diariamente  e, antes de julgar, reflita por um tempo : o que eu faria se hoje fosse diagnosticada com esquizofrenia? Como eu seria com meus familiares, amigos e a sociedade? Não me rotule, não me julgue e não tenha como referência notícias que usam de casos à parte para generalizar. 

O amor ajuda a vencer as batalhas, entretanto o excesso nos coloca como crianças, e não é isso que queremos. Muitos de nós portadores de esquizofrenia somos adultos e mesmo tendo nossas vulnerabilidades, como qualquer pessoa, precisamos e queremos ser ouvidos, ter nossas ideias, nosso direito de pensar e de dar opiniões, mesmo que a nossa opinião não seja a mesma que a sua, que tenta  entender o que passamos. Precisamos ter nossa autonomia e não nossa identidade roubada. 

O Laboratório Janssen à alguns anos traz a luz o seguinte slogan para o dia da pessoa com esquizofrenia: "Ouçam nossas vozes". Eu então me pergunto, quando foi a última vez que você sentou com o vulnerável e perguntou o que ele estava precisando ou sentindo? Quando foi o dia em que deixou ele viver o momento de solidão dele? Quando deixou ele se divertir com seu dom de tocar violão e o incentivou a continuar pelo caminho da arte? Às vezes só queremos o apoio e a nossa liberdade respeitadas. Isso já é parte do tratamento. 

Este texto é para você que convive com alguém que tenha o mesmo diagnóstico que tenho: esquizofrenia. Lembre-se de olhar para o seu familiar de quem ele é e não como ele possa estar no momento.

Hoje, podemos estar tristes e amanhã alegres, hoje chove e logo depois vem o arco-íris: esta é a ordem da natureza. Não queira mudar o que tem seu tempo para ser modificado ou aceito. A empatia está em você sentir o que o outro sente. Hoje olhe para seu familiar e veja como fui vista: antes da Esquizofrenia, sou Mariah!!!

Este texto contou com a ajuda mais que especial da Sarah Nicolelli, fundadora do movimento AMME (Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia). Conheça mais em http://www.maosdemaes.org.br/

Comentários

  1. Parabéns Mariah! Eu vi a campanha da Janssen, amei!

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  2. Obrigada, vamos continuar a falar pro mundo que estamos aqui e precisamos ser ouvidos.

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  3. Mariah sua voz precisa alçar vôos cada vez mais altos, cada vez para mais pessoas!!! Parabéns pela suas palavras! Extremamente esclarecedoras!!!

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    1. Olga agradecer a Você é a toda equipe técnica é pouco. Vamos voar juntos.

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